quinta-feira, 14 de maio de 2009

Artigos sobre a Crise atual do sistema capitalista

Pochmann e Renato debatem ''singularidades'' da crise

''Uma crise do capitalismo globalizado'', sistêmica e de longa duração, que é também ''uma crise do padrão de produção e consumo'', e ainda ''uma crise da governança global'', são alguns dos elementos que o economista Márcio Pochmann destaca como distintivos do derretimento econômico em curso. Pochmann os expôs nesta sexta-feira (20) em debate com Renato Rabelo, presidente do PCdoB, promovido pelo portal Vermelho e a revista Fórum.

Pochmann (e.) e Renato no debate Vermelho-Fórum
Mais de cem pessoas lotaram o auditório do debate que o jornalista Altamiro Borges, do Vermelho, apresentou como ''o primeiro do que pretende ser uma longa série'', anunciando o professor Emir Sader como próximo palestrante. Seguiram-se uma rodada de perguntas do público e um coquetel de lançamento do último livro do presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Qual Desenvolvimento? - Oportunidades e Dificuldades do Brasil Contemporâneo, autografado pelo autor.
''Uma crise do modo de produção''
Pochmann falou da crise, mas também da problemática brasileira face a ela e da necessidade da construção do que chamou ''um novo padrão civilizatório''. Mas começou pela exposição das particularidades que ela apresenta em relação às grandes crises capitalistas anteriores – em 1873, 1929, 1973.
''Esta crise atual tem uma singularidade, pelo fato de que se trata de uma crise do capitalismo globalizado, em que praticamente todos os países estão submetidos a uma lógica mercantil'', afirmou. E lembrou que em 1873 grandes áreas do mundo eram formações precapitalistas, enquanto em 1929 e 1973 existia o bloco socialista – abrindo como uma questão em debate o lugar atual de países como a China e Cuba.
''Trata-se de uma crise sistêmica, uma crise do modo de produção capitalista, não é uma crise financeira, é mais ampla. É sistêmica porque, embora tenha aparecido do ponto de vista financeiro, no mercado imobiliário, rapidamente contaminou o setor produtivo. Também passa a ter efeitos crescentes do ponto de vista político, que ainda não se apresentaram de modo preciso, mas certamente se apresentarão, pois é uma crise de longa duração'', afirmou o presidente do Ipea, sempre avesso a isolar os problemas econômicos de seus vínculos extra-econômicos.
''Uma crise do padrão de produção''
''É uma crise do padrão de produção e consumo'', argumentou Pochmann, em outra conexão pouco encontradiça nos meios da ''economia vulgar'', como diria Karl Marx. ''O elemento dinâmico do capitalismo no pós-guerra foi a produção industrial em série. Esse modo de produzir se generalizou pelo mundo. Mas este padrão de produção e de consumo é fortemente degradante do meio ambiente'', argumentou.
Pochmann usou os automóveis e as casas contemporâneas como exemplos dos limites do que chamou ''sociedade do ter''. ''A reprodução desse padrão para todos é inimaginável. Está em jogo a construção de um novo padrão de produção e consumo'', previu.
Desgovernança e protecionismo
Por fim, o presidente do Ipea comentou ''a problemática da governança do mundo, a governança global''. Lembrou que, em geral, para cada momento de crise havia um posicionamento, do FMI, do Banco Mundial, mas nesta crise, a ONU não conseguiu chamar uma conferência.
''A governança do mundo é feita cada vez mais pela grande empresa privada. Estamos falando cada vez mais de empresas que têm países e não países que têm empresas. O modelo neoliberal de abertura dos livres mercados construiu um capitalismo quase monopolista, dado o pequeno número das grandes empresas: as 500 maiores empresas têm um faturamento que equivale a 48% do PIB do mundo. A nossa Petrobras tem um faturamento maior que o PIB da Argentina. Fala-se hoje do G20, mas o G20 não tem institucionalidade'', observou.
Em uma crise de longa duração e na ausência de uma governança mundial, ''prevalecem os interesses nacionais mais organizados, que colocam o problema do protecionismo, disse o economista. Tendo chegado do México horas antes do debate, ele citou que naquele país há hoje cartazes: ''O meu emprego, o teu emprego dependem da compra de produtos mexicanos''.
Neste quadro, Pochmann identifica o perigo de conflitos armados. ''A superação da crise de 29 não se deu pelo New Deal; os EUA saíram da crise através da guerra'', comentou.
Brasil: ''Não estamos trabalhando com recessão''
''O Brasil historicamente tem se saído relativamente bem nas crises'', voltando a buscar exemplos em 1873, 1929 e 1973. ''O Brasil toma posições'', avaliou.
Ele destacou sobretudo as respostas à crise de 29, quando o Brasil ''foi um dos primeiros países a sair da crise, através de uma reinvenção do seu modelo, com a industrialização. Nós somos produto das decisões, muito difíceis, tomadas em 30. A maioria política naquela época enfrentou uma guerra civil (1932), mas tinha um modelo a seguir, o da industrialização''.
''Esta crise não foge à regra'', prosseguiu o presidente do Ipea, uma fundação vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. E agrupou as medidas adotadas em duas categorias:
Uma é a das medidas anticíclicas, como outros países também vêm tomando, medidas tradicionais, mas que diferem das tomadas por governos brasileiros anteriores: ampliação do crédito, redução da carga tributária ''e até, mais recentemente, a redução dos juros, por incrível que pareça''. Ressalvou porém que ''é claro que estas medias poderiam ser outras, mais ousadas, construídas de uma maneira mais participativa'', usando exemplos.
''Há uma segunda ordem de ações que não são injeções na veia mas representam uma tentativa de diálogo com a superação da crise'', agregou. Citou entre estas as obras em infraestrutura, os pontos do PAC, reorganização estrutural de grandes setores e o plano habitacional.
Ciclo atual ''obviamente está em cheque''
Mesmo assim, Pochmann vê com preocupação os reflexos da crise no Brasil. ''No Ipea vamos divulgar na próxima semana as projeções para este ano. Não estamos trabalhando com recessão, mas não o suficiente para reduzir o número de desempregados, o que exigiria um crescimento de 4%. Esse ciclo que vivemos desde 2007, muito positivo, obviamente está em cheque'', resume ele.
Durante a rodada de perguntas, uma pessoa indagou se Pochmann achava que já chegamos ''no fundo do poço''. Ele foi enfático na negativa.
''Um novo processo civilizatório''
Muitas dessas questões, de desenvolvimento recente, não estão no livro lançado nesta sexta-feira. Mas o último ponto abordado está, pois tem sido um dos temas preferidos de Pochmann ultimamente: ''Identificarmos as possibilidades que estão dadas do ponto de vista técnico para termos uma sociedade diferente da que temos, um novo processo civilizatório''.
''A história dos trabalhadores no capitalismo é a luta pela superação do trabalho heterônomo, o trabalho pela sobrevivência. Evidentemente há a possibilidade de um outro trabalho, autônomo, não no sentido de por conta própria, mas que liberte a vida do trabalhador da luta pela sobrevivência'', raciocina o economista.
Há cem anos, para o trabalhador, viver era trabalhar, desde os cinco anos até a morte e em jornadas elevadíssimas. O trabalho representava 70%, 75% da vida do trabalhador. Na sociedade moderna, o trabalho heterônimo representa talvez 40% do tempo de vida, porque o ingresso no mercado de trabalho se dá mais tarde, a jornada de trabalho é menor, há a aposentadoria, expôs Pochmann.
''Quem financiou isso foi, basicamente, um fundo público. Se na sociedade agrária ele representava 5% do excedente econômico, na sociedade atual vai representar 35, 40%'', prosseguiu.
Na sociedade do século 21, ''em que há uma intensificação do trabalho, os ganhos do trabalho são crescentes'', Pochmann defendeu que é possível ''ingressar no mercado a partir dos 25 anos, com jornadas de trabalho de 12 horas semanais, com educação durante toda a vida, na sociedade do conhecimento, dada a complexidade da vida. E um fundo público que represente 60%, 70% do excedente econômico. Isso tecnicamente é possível. A questão é política'', concluiu.
Renato: ''Quem paga a crise? E quem ganha?''
Renato Rabelo começou com um caloroso elogio ao presidente do Ipea: ''Eu considero hoje o Márcio Pochmann como um estudioso dos problemas brasileiros que pode dar uma grande contribuição a essa questão da alternativa que temos que perseguir diante de uma crise com essa dimensão'', avaliou.
''Muito das opiniões e idéias do Márcio se identificam também com idéias nossas. A crise atual, que é uma crise do capitalismo, de grande dimensão, é uma crise sistêmica, integral e civilizacional. O capitalismo já é impotente, enquanto sistema, de dar passos no sentido do avanço civilizacional'', disse Renato.
O dirigente comunista se deteve em especial na questão das alternativas diante da crise. ''A crise não é um processo neutro, com saídas técnicas. Os donos do processo procuram transmitir essa ideia. Na realidade, o processo de crise que vivemos provoca uma luta política acirrada, encarniçada'', opinou.
''Quem paga a crise? E quem ganha com a crise? Solução da crise a favor de quem e contra quem? Na lógica do capitalismo, a maioria paga e uma minoria se salva. Isso é reflexo de uma luta de classes, que se expressa no plano mundial e nacional. Isso requer luta, dura e crescente, para que a maioria não pague pela crise'', sublinhou Renato.
Conforme o presidente do PCdoB, ''a grosso modo nós poderíamos resumir as alternativas em três grandes blocos''. Primeiro, a tentativa de reformar o próprio neoliberalismo (''defendida por esse capital portador de juros, que vai tentar suas saídas''). Segundo, uma série de saídas intermediárias, keynesianas ou neokeynesianas, algumas das quais ''seriam a chamada meia-sola''; para Renato, elas ''podem jogar um papel importante na fase emergencial, mas não resolvem a questão de fundo. Por fim, ''existem as saídas pela tentativa de superação do capitalismo, a verdadeira emancipação nacional e do trabalho, que seria a saída revolucionária''.
Posicionando-se expressamente pelo terceiro bloco de saídas, Renato comentou: ''Nós já reunimos forças para uma saída revolucionária? De imediato, não. Mesmo a força social que promoveria essa ruptura, em que condições se encontra? O cenário mais provável é que prevaleça essa tentativa intermediária, buscando alternativas civilizatórias.''
Por um ''novo pacto político-social''
''A situação brasileira: o Brasil vive uma encruzilhada: ou aproveita a oportunidade da crise, ou desperdiça. Diz aqui o Márcio Pochmann que o Brasil nas crises sempre agiu. E agora? Nós podemos aproveitar esta oportunidade? Nós achamos que sim'', afirmou.
''Os grandes impasses do Brasil são a dependência, a desigualdade e o Estado conservador. No caso no nosso país, a solução é antes de tudo política. Nós temos de encontrar os caminhos econômicos e sociais, mas antes de tudo uma saída política. É necessário, no nosso modo de ver, um novo pacto político-social. O primeiro governo Lula fez um pacto, um pacto de dualidade, em função do quadro de forças daquele momento, com a Carta aos brasileiros. Um pacto dúbio, origem da dualidade do governo Lula, e teve fiadores para isso, não só o ministro da Fazenda mas o presidente do Banco Central, que foi uma exigência'', descreveu Renato.
''Ora, diante desta crise e da fragilização dos setores que impuseram esse pacto, não é o momento da gente exigir um novo pacto político, dos que produzem, dos trabalhadores e empresários produtivos?'', indagou o presidente do PCdoB.
Ao responder às indagações do público, ele explicitou que ao seu ver o ''novo pacto político-social'' deve incluir os trabalhadores e também o capital produtivo. E citou o Manifesto contra a crise, assinado no início do ano por centrais sindicais e entidades patronais desse segmento patronal.

(Vermelho.com.br)


O Brasil no período entre as duas guerras mundiais
por Samuel Sérgio Salinas*
A Primeira Guerra Mundial interrompeu um processo de desenvolvimento industrial do País, embora modesto, e sustentado pelo setor agrícola, a monocultura cafeeira. A guerra desarticulou o comércio internacional, ameaçado pelos bloqueios e pela destrutiva arma de perseguição aos barcos de comércio, o submarino, destacando-se de forma expressiva os famosos submarinos da marinha alemã.


Durante e depois da guerra, o comércio internacional reduziu-se consideravelmente, coarctando praticamente nossa importação de bens de capital e até os de reposição. No exterior, o intercâmbio alemão, para exemplificar, reduziu-se a um quarto em relação ao período anterior à guerra; em relação à Inglaterra, o declínio foi aproximadamente da metade. Numerosas razões modificaram inveterados processos de distribuição mercantil; conexões entre países desarticularam-se; esforços intensos foram desencadeados para obter autosuficiência em bens indispensáveis para o abastecimento militar e civil, ponderando-se os aspectos estratégicos envolvidos. Somente os Estados Unidos, que ingressou tardiamente no conflito ,em 1917, obteve proveitos comerciais e financeiros decorrentes dos empréstimos aos beligerantes e abastecimento de bens e material militar aos aliados. O intercâmbio entre empresas norte-americanas e países centrais europeus, liderados pela Alemanha, não cessaram, inclusive o abastecimento de petróleo, o que ocorreu também na Segunda Guerra. Após a guerra, o protecionismo, principalmente norte americano, e a necessidade europeia de exportar para obter divisas a fim de satisfazer os empréstimos obtidos nos Estados Unidos impediram fluísse o comércio, além de empobrecer ainda mais as combalidas economias europeias. As poucas reservas em ouro, destinadas a pagar os empréstimos, foram direcionadas para a América.


Werner Baer, no livro A Economia Brasileira, Nobel Ed., expõe os aspectos mais sintomáticos da queda da produção de alguns produtos peculiares às atividades industriais, no exterior e no Brasil. Concomitantemente refuta a tese de que o conflito consistiu em catalisador do crescimento industrial brasileiro. Ao referir-se a alguns indicadores da produção nacional , no período entre guerras, indica a queda no consumo aparente de cimento, de mais de 465 mil toneladas em 1913, para somente 51 700 toneladas em 1918; o consumo aparente de aço decresce de 589 mil toneladas para 50 mil toneladas no mesmo período, e o índice de importação de bens de capital sofreu uma redução de 205,3 em 1912 para 32,0 em 1917. Acrescenta Baer que durante a guerra, de 1914-1918, ocorreu uma queda ainda maior na importação de bens de capital ,em proporção a outros produtos.

A indústria brasileira de bens leves, por outro ângulo, a exemplo dos têxteis, aproveita-se da queda nas importações para empregar, de forma intensiva, o seu aparelho produtivo já instalado.

Se a Primeira Guerra não nos favoreceu, e no mundo todo acresceu os problemas dela emergentes, precipitando um descenso na atividade econômica de diversos países, embora de forma desigual ( os Estados Unidos foram uma exceção em certos aspectos). O descenso geral, após breve suspiro nos anos 20, não se recuperou, pelo contrário, nos anos 30 o comércio internacional declinou em termos reais. O desemprego estrutural permanente foi o fenômeno peculiar e traumático da época, pois se revelou uma faceta explosiva do capitalismo. O desemprego exponencial atingiu , na década de 30, índices de 20 a 30 por cento.. Esta taxa, sempre mencionada pelos economistas, é a manifestação definitiva de que a economia estava em crise ou recessão.Exprime, de maneira contundente ,a queda em todas as demandas: na taxa de lucro, no consumo e na produção. As análises dos economistas burgueses assinalam o desemprego, mas não o vinculam ao desencadeamento do ponto crítico onde outras rupturas se aglutinam.


Não deixemos que essa digressão nos remeta para a questão das crises, examinadas no campo marxista pelas competentes colunas de Sérgio Barroso. Fiquemos no panorama histórico do que se passou na economia brasileira do pós-guerra de 1914. Devemos, porém, nos reportar a momento de enorme repercussão na economia brasileira dessas décadas. Refiro-me ao denominado Convênio de Taubaté, concluído em fevereiro de 1906. O Convênio foi a demonstração inequívoca da enorme predominância do setor cafeeiro na atividade produtiva nacional na época. Celso Furtado, no livro Formação Econômica do Brasil, define o que foi a denominada política de valorização do café. Diz ele em essência, que essa política consistia no seguinte:


a) A fim de restabelecer o equilíbrio entre a oferta e a procura do café, o governo interviria no mercado para comprar os excedentes;
b) o financiamento dessas compras se faria com empréstimos estrangeiros;
c) o serviço desses empréstimos será coberto com um novo imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café exportada;
d) A fim de solucionar o problema a mais longo prazo, os governos dos estados produtores deveriam desencorajar a expansão das plantações.


Outra medida protecionista incluía o estabelecimento de um fundo para a estabilização do câmbio, a fim de impedir que a revalorização do produto aumentasse o preço, desistimulando a exportação do café Acirrada polêmica ocorreu na época, pois os cafeicultores foram, aparentemente, os únicos beneficiários desses empréstimos, a despeito de inegável endividamento do tesouro. Ocorreu o que se nomeou de “socialização dos prejuízos”, pois a todos os contribuintes, independente da atividade exercida, cumpriria fornecer os fundos de “valorização” do café, ameaçado pela queda na demanda internacional e no aumento dos custos da produção. À primeira vista notável quebra dos princípios fundamentais da teoria clássica da economia, soberana na época, a intervenção do estado é reconhecida como decisiva para evitar a derrocada da economia brasileira, ferida no sustentáculo da sua sobrevivência.


A disputa revelava aspecto que Celso Furtava assinala, ou seja, o princípio Federativo, inaugurado pela Constituição de 1891, alicerçara o poder dos Estados, consequentemente, a hegemonia dos produtores de café, pois a Federação exprimia, na época, o poder dessa classe dominante.

Lograram os “ruralistas” de então impedir enveredasse a lei pelo terreno de suas conquistas, dentre elas uma eventual legislação que buscasse aliviar as condições precárias dos escravos libertos( uma fração de classe ainda sem história). Legislação dessa natureza acabaria ingressando nas relações de trabalho, o que se evitou por algumas décadas, até o Código Civil. Este, por sua vez, normatizou, timidamente, a mera prestação de serviços ( prestação de serviços sem vínculos remunerativos). Continuaram libertos e trabalhadores comuns desamparados de leis que lhes assegurassem um mínimo de proteção. As leis trabalhistas esperaram outras décadas e algumas revoluções para serem promulgadas.


Voltemos ao assunto. Os governos estaduais e a burguesia cafeicultura de São Paulo detinham o poder constitucional exclusivo de criar impostos às exportações. Era o imposto de maior expressão econômica e política, dominando o café a nossa pauta. Enorme, dessa maneira, a pressão sobre o governo federal ,que foi obrigado a ceder, assumindo o encargo de salvar a grande monocultura cafeeira.


Teria sido um desastre completo para as relações sociais, para a saúde da economia brasileira, esse exemplo da força de uma classe social hegemônica nos anos 30 de nosso País? Bem, o tema é fascinante e as questões suscitadas não são corriqueiras, como parecem ser. Na próxima coluna ingressaremos nessas questões.


*Samuel Sérgio Salinas, Procurador de Justiça aposentado do Estado de São Paulo, é sociólogo, escritor e jornalista, autor de diversos livros. Foi um dos fundadores do Ministério Público Democrático do Estado de São Paulo.


Gilson Caroni: O Armagedon da grande imprensa

Crise econômica ou Armagedon? Após o IBGE ter divulgado uma queda de 3,6% no crescimento da economia brasileira no último trimestre de 2008, os editores de primeira página de O Globo e da Folha de S.Paulo não hesitaram em recorrer, na quarta-feira (11), às habituais formas de terrorismo editorial. A capa do diário carioca ostentava: ''Indústria desaba. Consumo cai e já se teme 2009 com recessão''. O jornal paulista não ficou atrás: ''Queda do PIB no Brasil é uma das piores do mundo''.

Por Gilson Caroni Filho, para a Agência Carta Maior


O fato de a desaceleração ter ocorrido no último trimestre pareceu irrelevante para os editores da conhecida publicação da Barão de Limeira. Apoiando-se no que julgava ser potencialmente mais explosivo, omitiu um dado de capital importância para compreensão da realidade econômica do país: o PIB brasileiro, apesar da crise em escala planetária, apresentou o segundo maior crescimento mundial. Ou seja, outras manchetes seriam possíveis. Algo do gênero “Apesar da recessão global, PIB cresce 5,1%''. Por que não? Por determinações da pequena política.

Que tipo de jornalismo está sendo feito no Brasil? Para quais interesses é direcionada sua estrutura narrativa? É o caso de reexaminar, como já sugeriu o jornalista Alberto Dines, os procedimentos e padrões para a formulação de títulos? Ou o claro viés ideológico clama por uma inflexão de outra natureza? O que está em xeque é a própria ética do fazer jornalístico.

Como ressalva o editor do Observatório da Imprensa, “de nada adianta registrar todos os dados, reproduzi-los no corpo da matéria se a titulação-espelho fiel da busca da verdade beneficia apenas um ângulo”. Aquele que melhor atende aos objetivos de uma oposição sem projetos, fingindo fazer interpretação equivocada da Teoria da Catástrofe. Sejamos claros nesse ponto: o problema não é desvio conceitual, mas de caráter mesmo.

Mais uma vez, o que temos aqui são manchetes que, ignorando a apuração para obter impacto, não revelam incompetência, mas disposição de submeter o leitor e/ou telespectador à desinformação, ao fatalismo de profecias que se auto-realizam, à erosão da popularidade de quem governa.

Canto da sereia já não seduz

Será que ainda não se deram conta que uma nova opinião pública se consolidou, apesar do conteúdo que produzem? Analisando o processo eleitoral de 2006, a jornalista Ana Rita Marini (*) constatou que “distante da influência das manchetes, o eleitor não se deixou levar pelo canto da sereia nos maiores veículos de comunicação''. Não é o caso de se deter diante das conseqüências deste fenômeno, tão imprevisíveis quanto os da crise do capitalismo, antes de seguir na linha de jornalismo de campanha?

Já não passou da hora de a imprensa brasileira botar sua cultura no divã e ver que, se ela tem mudado os seus absolutos, eles continuam com a mesma face odiosa? Vale a pena manter a linha autoritária, acrescentando nuanças aparentemente democráticas? Ou o dilema dos barões da mídia é o mesmo de lideranças oposicionistas que vêem em 2010 não apenas mais uma eleição presidencial, mas a própria sobrevivência política?

Nesse caso há um subtexto, uma manchete oculta na primeira página de O Globo. “A agenda conservadora desabou, seu candidato começa a cair e há sinais de derrota nas eleições de 2010?” Se for isso, o Armagedon está explicado.

(*) Publicado em MídiaComDemocracia nº 5, janeiro de 2007, revista do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.

PS: Este artigo estava concluído quando o IBGE anunciou crescimento de vendas no varejo em janeiro. E agora, qual será a manchete? “Governo falha. Demanda cresce e há sinais de aumento do consumo em 2009?” Fica como sugestão.




Crise chega ao cinema e põe em risco produção de filmes

A crise chegou aos sets de filmagem dos longas-metragens em produção no Brasil. Como se não bastasse a ausência de patrocínio da Petrobras durante 2008 — R$ 20 milhões a menos no setor —, produtores ainda enfrentam o corte de incentivos das empresas privadas.


Nem mesmo o BNDES, um dos principais agentes da política anticíclica (de medidas para reduzir o impacto da crise), tem reservado boas notícias ao setor. A seleção de projetos a serem financiados em 2009 ainda não tem data para acontecer. O último edital saiu em março do ano passado, e os recursos, R$ 12 milhões, foram liberados no segundo semestre.

Antes financiados quase exclusivamente pelo setor público, produtores se acostumaram, nos últimos quatro anos, a ser bem recebidos nas empresas privadas. Antes da crise, o crescimento da economia motivava cada vez mais empresas a patrocinar filmes via leis do Audiovisual e Rouanet, que permitem deduzir do Imposto de Renda o dinheiro destinado às produções audiovisuais.

A crise reduziu as perspectivas de lucros e, consequentemente, os recursos para filmes. "O "não" voltou a ser resposta-padrão", queixa-se Paula Lavigne, que acaba de rodar O Bem-Amado. "Mesmo que o dinheiro seja ressarcido lá na frente, ninguém quer tirá-lo do caixa agora", diz Iafa Britz, que rodou o campeão de bilheteria Se Eu Fosse Você 2 e está às voltas com quatro produções.

Recursos próprios

Duas grandes investidoras, a operadora ferroviária MRS Logística e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), já avisaram ao setor que não liberarão recursos neste semestre. Segundo a Ancine, antes da crise, 30% dos recursos do setor vinham de fora das estatais. Não há dados disponíveis sobre a queda nos patrocínios privados, mas, pelo que dizem os produtores, a proporção cairá.

Ao iniciar as filmagens de O Bem-Amado, com Marco Nanini, em 2007, Lavigne estava certa de que teria facilidade em levantar dinheiro com empresas privadas — a história de Odorico Paraguaçu foi sucesso na Globo nos anos 70 e 80. O dinheiro captado antes da crise veio fácil e foi usado na filmagem, recém-encerrada. Lavigne agora tem dificuldade para levantar R$ 2,5 milhões para edição e pós-produção. "Um executivo disse que não tem como me dar dinheiro enquanto faz demissões. Em outros tempos, teria encerrado a captação. Vou usar recursos próprios."

Duas empresas que se comprometeram com Joaquim Vaz a dar R$ 700 mil para finalizar Salve Geral acabam de desistir. "A crise vai atrasar os cronogramas do cinema em ao menos seis meses. Haverá uma entressafra", diz o produtor. Mesmo Luiz Carlos Barreto, que conseguiu, com recursos privados, R$ 16 milhões para Lula, o Filho do Brasil (sinal de que o tema político pode ter ajudado na captação), diz sentir a crise nas conversas para novos projetos. "É um horror. As captações privadas caíram 70%."

Indefinição das empresas

A Petrobras informou que o atraso de um ano na divulgação do edital para seleção de filmes ocorreu porque "o programa estava sendo revisado". O último foi divulgado em novembro, e seus resultados para produção de longas e curtas só serão divulgados em outubro. O BNDES alega que vai esperar o resultado da Petrobras para, então, fazer sua seleção.

A CSN preferiu não comentar o assunto. Já a MRS reconhece que, com a crise, decidiu suspender a concessão de verbas culturais, mas que voltará a patrocinar projetos no segundo semestre, com novas regras.

A Odebrecht, outra grande patrocinadora, ainda não decidiu quanto destinará ao cinema neste ano. "É possível que haja cortes", diz Márcio Polidoro, diretor de relações institucionais. Apenas a Oi informou que aumentará de R$ 9,2 milhões para R$ 11 milhões a verba para patrocínio e apoio de produção de cinema em 2009.

Fonte: Folha de S.Paulo



Pochmann aposta no mercado interno para o país sair da crise

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, entende que o Brasil precisa de um pacto interno para combater a crise econômica que assola todo o mundo. Segundo ele, esse entendimento deve passar por um "grande entendimento nacional" e no aproveitamento do mercado interno para suprir a queda das exportações.

Pochmann: críticas à política monetária do BC
"Eu não tenho dúvida que o mercado interno brasileiro, pela vantagem que nós temos, representa uma oportunidade que poucos países possuem neste momento. Agora, é uma oportunidade, que precisa ser aproveitada", disse o economista, em entrevista ao Terra Magazine.Como avalia a queda na produção industrial em dezembro de 2008?Em primeiro lugar, é o resultado da política monetária restritiva verificada no ano passado. A elevação dos juros em 2008 implicou seu maior efeito no ultimo trimestre do ano passado, já que há um lapso de tempo entre as decisões do Banco Central e seus impactos na vida real. De forma combinada, coincidente, nós tivemos o impacto da própria crise internacional, seja da forte contenção do crédito às empresas, seja resultante das multinacionais que tomaram decisões com efeitos nas matrizes. E por fim a desaceleração drástica do comércio externo, que impactou nas empresas exportadoras. O setor industrial denunciou mais rapidamente os efeitos no encolhimento da demanda, embora isso não seja o mesmo verificado nos setores de distribuição, se pegarmos comércio e serviços. O que ocorreu no último trimestre do ano passado não pode ser generalizado para o conjunto da atividade econômica.
Esse resultado indica uma desaceleração maior a longo prazo?Eu diria que há um sentido recessivo nesses dados. De certa maneira, colocam em xeque as próprias respostas que estão sendo dadas e que, a nosso ver, não estão sendo suficientes para conter esse sentido recessivo. É fundamental repensar as políticas que estão sendo adotadas, porque do contrário não seremos capazes de ter um ano de crescimento positivo em 2009, ainda que menor que o ano passado.
Ainda assim, a indústria registrou, em meio ao estouro da crise, crescimento de 3,1% em 2008. Este não pode ser considerado um bom resultado?Se a gente olha o conjunto dos 12 meses do ano passado, o desempenho de 3% comparado aos níveis internacionais não é nenhum fracasso. Em 2008 há dois momentos distintos: o que vinha ocorrendo até o mês de outubro, e o que veio a partir de outubro. Então, a preocupação nesse momento é com as medidas necessárias para que não tenhamos uma interrupção no ciclo de bons resultados econômicos e sociais que o Brasil vinha apresentando praticamente desde 2004. Se tivermos um crescimento menor neste ano, e ao que parece nós vamos ter, os resultados sociais produzidos nos anos anteriores não serão mais os mesmos. Isto pode interromper essa trajetória positiva que vínhamos observando, e para combater isso são necessárias medidas de caráter cada vez mais inovador.
O senhor mencionou a diminuição das exportações ao comentar o recuo na produção industrial em dezembro. Como o mercado interno se encaixa nessa equação? O mercado interno brasileiro já pode servir de colchão contra a crise?Se compararmos períodos históricos próximos ao que nós vivemos agora, como a crise de 1929, a crise de 1973, não há dúvida de que a saída se deu pelo mercado interno. O Brasil soube utilizar medidas inovadoras, como a reorientação do modelo econômico em 1929, ou como foi, nos anos 1970, o plano nacional de desenvolvimento e de reforço do setor produtivo acoplado inclusive a iniciativas inovadoras como o Proálcool, que criou uma nova perspectiva da matriz energética. Eu não tenho dúvida que o mercado interno brasileiro, pela vantagem que nós temos, representa uma oportunidade que poucos países possuem neste momento. Agora, é uma oportunidade, que precisa ser aproveitada.
O anúncio da construção de casas populares pelo governo e o aumento de verbas destinadas ao PAC são medidas suficientes?São medidas oportunas, estão no sentido correto. À medida que enfrentamos as mazelas nacionais, com um contingente enorme de sem-tetos, não só de sem-teto, há outras mazelas que poderiam ter o enfrentamento perfeitamente ampliado aproveitando a situação de crise. Acreditamos que o momento de crise exige, na verdade, um grande entendimento nacional. Esse entendimento significaria, a nosso ver, uma repactuação do federalismo brasileiro, porque essa questão tem de ser enfrentada não só pelo governo federal, pelos governadores e prefeitos; e, ao mesmo tempo, o entendimento com o setor produtivo, com empresários e trabalhadores. Essa oportunidade de combinar esforços de toda a sociedade é que nos dará uma singularidade para superar as barreiras que estão sendo enfrentadas hoje.
O senhor vê espaço para a redução da taxa de juros nos próximos meses?A nosso ver, e a partir dos dados da pesquisa mensal do IBGE, seria importante que o Banco Central promovesse uma reunião extraordinária para reduzir as taxas de juros imediatamente. Defendemos uma queda de 5 a 6 pontos percentuais neste ano. O patamar de juros que temos hoje está incompatível com o sentido recessivo que o setor industrial apresenta. Seria perfeitamente aceitável uma decisão extraordinária do Copom para reduzir a taxa de juros diante dos dados que temos hoje, porque o Banco Central tomou a decisão passada.
Apesar de o governo reconhecer a crise e anunciar medidas para combatê-la, o presidente Lula utiliza um discurso otimista, como se houvesse um desgaste menor no Brasil. Isso é eficiente?Do ponto de vista da retórica, nós precisamos considerar, como é esperado de uma autoridade, que ele precisa olhar o país como um todo. E a crise atinge o país de forma muito heterogênea: tem setores que perdem e outros que ganham na crise. Se a indústria acusou menor atividade no último trimestre 2008, o mesmo não pode ser dito, por exemplo, no setor de comércio varejista, no setor de serviços, que não apresentou resultados tão negativos - pelo contrário. Portanto, a autoridade tem que olhar o conjunto da nação e valorizar sobretudo as suas possibilidades nesse sentido. Agora, do ponto de vista da ação interna, da ação do governo, é importante que o debate da crise não fique circunscrito às decisões do Executivo. Em um momento como esse, que é um momento extraordinário, ele exige o envolvimento do conjunto das autoridades da República: do Legislativo, do Judiciário, dos demais poderes e entes federativos e da própria sociedade. O governo reagiu muito rapidamente aos problemas iniciados já no final do ano passado, concedendo crédito aos setores em dificuldade, ao nosso ver é preciso ampliar isso para envolver os trabalhadores, não somente os empresários, e também realizar o pacto federativo. Isso seria um reforço da retórica que o presidente Lula vem fazendo neste momento.





















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